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SIRVA BEM

SIRVA BEM


Servir bem é uma arte

FOTOS: SILVANA TARELHO / REPRODUÇÃO

SERVIR DIFERENCIADO: o esmero na decoração da mesa não é exclusividade dos restaurantes e conta na apreciação do evento. Entre as regras básicas da etiqueta, figuram: o convidado não precisa ser comedido; o anfitrião não deve ser displicente

 

 

 

Negligenciadas por alguns, as regras de etiquetas são um termômetro indicativo de boa conduta à mesa. Para não cometer gafes, anfitriões e comensais devem recorrer ao bom senso, sempre


Para muitas pessoas, o drama se repete. Diante de um convite para um jantar ou cerimônia formal, a dúvida mais freqüente é: como se portar e não cometer gafes? Para alguns, as dificuldades à mesa são constantes mesmo em eventos informais, na companhia dos amigos. Manusear louças e talheres, segurar taças e copos, postar o guardanapo corretamente, escolher um menu adequado... são questões que afligem anfitriões e convidados.

Muitas vezes, as escolhas e a conduta são corretas, mas a ansiedade e a insegurança comprometem na hora decisiva. E, dependendo da ocasião (um jantar de negócios, por exemplo), o vacilo pode ser crucial, ou, no mínimo, render dissabores ao protagonista da gafe. Embora a tendência contemporânea seja optar pela informalidade e negligenciar as regras mais complicadas, a etiqueta se mantém em muitos segmentos e ocasiões. Portanto, é melhor se render a ela do que recusá-la.

Engana-se quem pensa que o bom serviço se restringe aos bufês e restaurantes sofisticados - no ambiente doméstico, receber bem também rende elogios e apreço. E o melhor de tudo: especialistas asseguram que anfitrionar não é tão difícil quanto se propaga. Tampouco, portar-se à mesa corretamente. Tudo se resume a duas palavras importantes: bom senso.

Cuidados com o serviço

Publicado pela Editora Anhembi Morumbi, o livro “Arte e Ciência do Serviço” é uma obra que casa com os interesses de restauranteurs, gerentes de bufês e donos de casa. É certo que o volume privilegia situações formalíssimas, em que o requinte conta em demasia, mas suas considerações podem ser “adaptadas” a contextos menos sóbrios como um jantar entre amigos.

Segundo a obra, o cuidado com o serviço não se restringe ao momento da refeição: também o manuseio e higiene dos utensílios devem ser feitos com cautela. Uma taça mal lavada ou impregnada de odores, por exemplo, compromete o sabor de um vinho ou licor; e nada pior do que a identificação de sobras de comida nos talheres ou de manchas e rasgões nas toalhas.

Sobre a arte de servir, a obra é taxativa: ninguém é obrigado a possuir uma baixela de prata ou fina porcelana, bem como copos de cristais, mas a louça do dia-a-dia também não é recomendável para um evento especial. Uma dica acessível é optar por travessas e tigelas de vidro – além de higiênicas, valorizam os alimentos à mesa e transmitem uma sensação de leveza. Para os talheres, um bom jogo de peças em aço inoxidável é suficiente para o serviço doméstico.

Antes de organizar e dispor a mesa, é importante verificar se o tampo encontra-se estável para evitar que os convidados se levantem durante a refeição. Ao escolher uma toalha, verifique se a mesma está em sintonia com a decoração e com as cores do ambiente – o tecido deve descer até as cadeiras. Em casa, o guardanapo não precisa ser dobrado em formatos lúdicos, mas deve estar limpo. Para cada convidado, certifique-se da existência de um prato grande raso e de outro, menor, para a sobremesa. As taças devem casar com a bebida selecionada – a escolha incorreta não valoriza o produto. Para não sobrecarregar a mesa, deixe as xícaras e o serviço do café em outro móvel próximo.

Decoração e cardápio

Arranjos grandiosos são adequados a bufês e restaurantes, mas sobrarão elogios ao anfitrião que apresentar sua mesa com bom gosto. Poucas flores e velas, por exemplo, podem render ótimos resultados. A escolha da decoração, contudo, deve se adequar à refeição: a formalidade de um jantar não é compatível com a descontração do almoço ou do café da manhã. O importante é que o ambiente reforce a hospitalidade. Por fim, a seleção musical também deve coincidir com o maior ou menor rigor do encontro programado – só não pode constranger ou silenciar os convivas.

Certamente, o anfitrião irá ponderar seus gostos na hora de definir o menu; o peso maior, porém, deve recair nas predileções dos convidados (é gafe terrível, por exemplo, planejar um jantar com pratos à base de carne, quando à mesa se encontram alguns convidados vegetarianos). A refeição deve contemplar todos os comensais, indiscriminadamente. Para servi-la, pode se optar pela informalidade (onde reina a espontaneidade do auto-serviço) ou por um rigor maior – uma pequena equipe especializada poderá auxiliar neste tipo de atendimento. O importante é que todos se sintam integrados à mesa.

Das alegrias e agruras de ser comensal

Anfitrionar bem denota cordialidade e elegância, mas igualmente louvável é saber se portar à mesa, qualquer que seja a ocasião – um almoço dominical entre amigos ou um bufê de casamento, por exemplo. A conduta não consiste em exagerar na “frescura”, mas respeitar as regras socialmente estabelecidas.

Cerimonialista com quase 30 anos de experiência em organização de eventos, Alódia Guimarães aponta dois erros freqüentes: “com receio de se servir mais de uma vez, algumas pessoas acabam colocando no prato tudo o que está na mesa e terminam por fazer misturas incorretas. Outro vexame recorrente é o mau uso dos talheres – os que não sabem manuseá-los deveriam observar os mais experientes”, diz.

Colega de profissão, a cerimonialista Ivana Castro aponta outro equívoco: “o bom serviço e a etiqueta pressupõem o cumprimento de alguns códigos. Muitos clientes, já satisfeitos, não posicionam os talheres corretamente – alinhados e em sentido horário –, dificultando a compreensão do garçom”, esclarece.

Nas festas domésticas, ambas concordam que os anfitriões devem estar disponíveis para os convidados e programar um cardápio que case com as predileções das visitas. “É importante que seus amigos sintam que tudo foi planejado – entrada, bebidas, prato principal e sobremesa – para proporcionar bem-estar”, destaca Ivana. “Antes de fazer o convite, porém, é importante checar se existem desavenças entre os nomes que constam na relação para evitar constrangimentos à mesa”, alerta Alódia. Para a cerimonialista, repetir a refeição ou tecer elogios ao cardápio é sinal de cordialidade – “o anfitrião se sentirá lisonjeado”.

Mesmo nas reuniões informais, Ivana sugere um serviço ou organização mínima: o uso de uma louça de melhor qualidade e de jogos americanos, por exemplo, para forrar os utensílios. “A espontaneidade conta muito, mas bom gosto e atenção são igualmente importantes”, insiste.

Etiqueta à mesa

Para Alódia e Ivana, o cearense, em geral, é educado, demonstrando boa conduta à mesa. Na disputa entre os sexos, a dupla afirma que a mulher comete menos gafes. “É mais atenta às regras básicas e, por isso, é mais disciplinada. O homem normalmente é mais desligado e impulsivo”, diz Alódia. “Muitos cometem gafes inadmissíveis, como escolher o prato num restaurante quando deveriam ceder à mulher este direito”, acrescenta Ivana.

A cerimonialista, no entanto, insiste que homens e mulheres devem estar atentos à escolha correta do figurino, de forma a conciliar o visual com a proposta do evento. “Alguém mal vestido pode camuflar o fato ao se portar bem. Porém, é importante que as roupas estejam em sintonia com a situação. Posso e devo ir casual nos jantares que o sejam; do mesmo modo, uma situação formal exige uma apresentação à altura”, alerta Ivana.

Sobre a qualidade dos serviços em bufês e restaurantes da capital, a dupla é enfática em ressaltar a excelência dos primeiros: “estão aptos a organizar qualquer evento”, elogia Ivana. Já os restaurantes, complementa Alódia, servem a contento, com uma ou outra exceção. “Cada caso é um caso, às vezes o atendimento é impecável, mas um único funcionário ou descuido compromete a avaliação final”, ressalta a cerimonialista.